quarta-feira, 4 de julho de 2018

Amamentação - 8 Mitos





Hoje, partilho convosco, um artigo, escrito por mim e que originalmente foi publicado na Revista Paleo XXI nº2
Conhecido, também, como “líquido de ouro”, o leite materno é o alimento mais completo que existe e os benefícios para a saúde tanto dos bebés, quanto das mães são inúmeros e irrefutáveis.
Citando James Akré: “O leite humano é muito mais do que uma simples colecção de nutrientes, é uma substância viva de grande complexidade biológica, ativamente protectora e imunomoduladora. Não apenas proporciona protecção exclusiva contra infecções e alergias, como estimula o desenvolvimento adequado do sistema imunológico do bebé, além disso, contém muitos componentes anti-inflamatórios”
Apesar de a Organização Mundial de Saúde e a UNICEF recomendarem a amamentação exclusiva até aos seis meses de idade, seguida de amamentação parcial até pelo menos dois anos de idade, a verdade é que isso muitas vezes não acontece. Segundo o Manual de Aleitamento Materno, do Comité Português para a UNICEF, «alguns estudos portugueses apontam para uma alta incidência do aleitamento materno, significando que mais de 90% das mães portuguesas iniciam o aleitamento materno». Em contrapartida, «esses mesmos estudos mostram que quase metade das mães desistem de dar de mamar durante o primeiro mês de vida do bebé, sugerindo que a maior parte das mães não conseguem cumprir o seu projeto de dar de mamar, desistindo muito precocemente da amamentação». É, por isso, extremamente importante deitar por terra inúmeros mitos e crenças sem qualquer base científica que as sustente e que muitas vezes assombram e comprometem irremediavelmente o sucesso da amamentação bem como o aporte nutricional e o bem-estar psicológico da mãe.  Eis alguns dos mitos mais frequentes:






1- Leite Fraco

Estudos mostraram que mesmo mulheres desnutridas são capazes de produzir leite materno em quantidade e qualidade suficientes para suprir o crescimento do bebé. A incapacidade de produzir leite suficiente (hipogalactia materna) é muitíssimo rara. Na maioria dos casos, problemas com o ganho de peso do bebé estão, sim, relacionados com a baixa ingestão de leite - não mamam em livre demanda ou fazem “má pega” o que dificulta a ingestão correta do leite – ou com um problema de saúde do bebé.
Quando o bebé tem o seu primeiro pico de crescimento e o seu apetite aumenta substancialmente, solicitando leite “a toda a hora” muitas mães e até alguns profissionais de saúde mal informados, entendem isso como sinónimo de leite fraco e correm a introduzir os famosos suplementos, tal não é de todo necessário, tudo o que a mãe tem que fazer é continuar a amamentar em livre demanda SEMPRE que o bebé pedir. Nunca esquecer que quanto mais bebé mama, mais leite a mãe produz.
O apoio de alguém especializado em amamentação é fundamental para encontrar a causa que está de facto a impossibilitar o ganho de peso do bebé, por forma a impedir a suplementação incorreta e consequente possibilidade de desmame precoce.



2- Bebés devem mamar de 3 em 3 horas

Os bebés devem mamar em “livre demanda”(quando e sempre que querem). Intervalos irregulares entre mamadas são normais. Factores como a dimensão do estômago do bebé ( quando nascem é normal quererem mamar de hora em hora) picos de crescimento, sede, calor, doença podem influenciar a frequência com que mamam, bem como a quantidade ingerida.
Para além disso alguns bebés têm necessidade de mamar frequentemente e durante muito tempo e outros mamam mais espaçadamente e fazem mamadas mais curtas. Cada bebé tem a sua maneira pessoal de alimentar-se e sentir-se confortado.
A produção e a ejeção do leite são mecanismos controlados principalmente por duas hormonas: a prolactina e a ocitocina. A prolactina é responsável pela produção do leite, enquanto a ocitocina é responsável pela saída do leite.
Quando o bebé mama, o mamilo emite impulsos nervosos para o cérebro da mãe, provocando a libertação de prolactina e de ocitocina. A prolactina é produzida em maior quantidade durante a noite, pelo que amamentar o bebé durante a noite pode contribuir para uma boa produção de leite. 


3-Quanto mais espaçadas as mamadas, maior a quantidade de leite “armazenada” nas mamas

A lactação é um processo neuro-hormonal que envolve caminhos neurais intactos e é ativada, ainda mais, pela ação mecânica da demanda de leite do lactente. Portanto, quanto mais frequente e eficiente o tempo que um bebé mama, maior é a resposta do corpo para produzir adequadamente leite e aumentar o seu teor de gordura.




4- O leite materno não tira a sede ao bebé

Estudos indicam que bebés saudáveis e amamentados em exclusivo, nos primeiros seis meses de vida, não necessitam de ingerir líquidos adicionais, mesmo em países com temperaturas muito altas e baixa humidade. Os níveis de solutos na urina e no sangue de bebés exclusivamente amamentados em tais condições situavam-se dentro dos valores normais, indicando ingestão adequada de água.
A quantidade de água do leite materno consumida pelo bebé amamentado em exclusivo satisfaz todas as suas necessidades. Muito embora, inicialmente, o recém-nascido obtenha pouca água com o colostro, não é necessária ingestão adicional porque os bebés nascem com uma reserva extra de água e por volta do terceiro ou quarto dia, surge o leite com maior teor de água.
Para além disso, substituir o leite materno por um líquido com nenhum valor nutricional pode ter um impacto negativo na sobrevivência, crescimento e desenvolvimento do bebé. Mesmo o consumo de pequenas quantidades de água ou outros líquidos pode encher o estômago do bebé e consequentemente reduzir a quantidade ingerida de leite materno. Estudos mostram que dar água antes dos seis meses pode reduzir a ingestão de leite materno em até cerca de 11 por cento.




5- Quando as mamas estão moles é sinal de pouco leite ou que o leite secou.
A partir do momento em que a amamentação está devidamente ajustada e regulada acontece frequentemente não ter a sensação de mama cheia e por esse motivo achar que tem pouco ou nenhum leite. Esta situação é normal e não é de todo motivo par alarme, a mama continua a produzir leite sempre que o bebé mamar.


6- O leite materno, à semelhança do leite artificial, tem sempre o mesmo sabor, propriedades nutricionais e consistência
Estudos demonstram que o líquido amniótico e o leite materno compartilham uma semelhança nos perfis de sabor com os alimentos que a mãe comeu, levando a que o leite materno possa "encadear" as experiências de sabores no útero com posteriores experiências com alimentos sólidos. Além disso, a doçura e as propriedades texturizadas do leite humano, como a viscosidade e o revestimento da boca, variam de mãe para mãe, sugerindo assim que a amamentação, ao contrário da fórmula alimentar, proporciona à criança o potencial de uma fonte rica de experiências quimiossensíveis várias. Os tipos e a intensidade dos sabores experimentados no leite materno podem ser únicos para cada criança e influenciar os seus gostos futuros.


7- Mamas pequenas não produzem leite suficiente

A capacidade de amamentar não é directamente proporcional ao tamanho da mama. O seu tamanho apenas depende da gordura armazenada nesse local, ao passo que a produção de leite depende das glândulas que se encontram na mama e que, em geral, existem em quantidade suficiente em quase todas as mulheres.





8- A mãe deve lavar os mamilos antes de amamentar

Durante a gravidez, as glândulas de Montgomery que rodeiam o mamilo começam a segregar um óleo natural que lubrifica a pele e inibe o desenvolvimento de bactérias. Basta deixar esta substância natural fazer o seu trabalho. Além disso, o próprio leite materno protege o bebé contra infeções e bactérias.


Enquanto mãe, vou tomar a liberdade de deixar um pequeno conselho: É crucial que a futura mamã ou recém-mamã, se informe corretamente, e caso seja necessário procure apoio junto de especialistas em amamentação. Tenha à mão o contacto de uma CAM- Conselheira de Aleitamento Materno, não leve chupeta para a maternidade, não esqueça a importância do colostro para o bebé nos primeiros dias, promova o contacto pele-a-pele, acredite em si e nas suas capacidade e ignore opiniões alheias. <3

Ps: Muito obrigada à querida CAM Patrícia Paiva por ter revisto este artigo <3


Autor: Ana G. (Mamã Paleo) - psicóloga e mãe



Fontes:
Moore, Elizabeth R., and Gene Cranston Anderson. “Randomized Controlled Trial of Very Early Mother‐Infant Skin‐to‐Skin Contact and Breastfeeding Status.” Journal of midwifery & women’s health 52.2 (2007): 116-125.

Lawrence, Ruth A. and Lawrence, Robert M. Breastfeeding: A Guide for the Medical Profession. 5th ed. New York; C.V. Mosby, 1999.
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Kent, Jacqueline C., et al. “Volume and frequency of breastfeedings and fat content of breast milk throughout the day.” Pediatrics 117.3 (2006): e387-e395.

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Gonçalves AC. Crenças e práticas da nutriz e seus familiares no aleitamento materno [dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2001.

Mohrbacher, N., Stock, J. BREASTFEEDING ANSWER BOOK. Schaumburg, Illinois: LLLI, 1997; 116-32.
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Manual de Aleitamento Materno, do Comité Português para a UNICEF







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